Férias Suicidas

Vai chegando nessa época do ano e todo mundo fica com vontade de tirar férias. Férias da escola, férias do trabalho, férias das férias... Pra mim o conceito de férias é bem mais complexo do que apenas dar tchau ao professor ou ao chefe dizendo um "até o ano que vem, boas festas" e depois pegar suas roupas de banho ou seu esquí para viajar pra algum lugar atípico para poder aproveitar o tempo livre... Tirar férias mais, é você se ausentar de qualquer coisa. E por que não tirar férias de algumas pessoas? Tente tirar férias do vizinho, da namorada, da sogra, dos cobradores, das telefonistas, dos pais, dos irmãos, dos filhos... Seria bom poder tirar férias diárias, semanais ou mensais dessas e de muitas outras pessoas. E de muitas outras coisas. De pessoas e de coisas ao mesmo tempo. Do tempo. O tempo é uma coisa cansativa e imutável, e não tira férias. E muito menos deixa a gente tirar férias dele, o que é pior. É impossível dizer "tempo, dá um tempo, poxa". É ridículo. Em suma: somos escravos do tempo, pois somos obrigados a deixar que as coisas aconteçam em sua ordem programada. Devemos deixar o destino agir, devemos deixar os dias terem 24 horas, as semanas terem 7 dias, os meses terem uns 30 dias, e as rugas vêm, e a idade vêm e os problemas devem continuar a aparecer para serem solucionados ou não... Tirar férias dos problemas também seria uma boa. Imagina poder pegar todos os seus problemas atuais, e, no próximo natal, colocá-los em um saco, e assim que o Papai Noel passar, entregar o saco de problemas velhos para ele e receber um saco com problemas novinhos em folha. Seria um Programa de Reciclagem Anual de Problemas (PRAP). "Pelo menos são problemas novos, o que os torna menos entediantes", diriam os mais otimistas... E também é impossível tirar férias de si mesmo, constatei lamentando, pois é tentadora a possibilidade de poder sair de si para ir para outro lugar, para outro corpo, para outro instante... A ciência ainda não evoluiu até esse ponto, e é uma pena, pois acredito eu que muitas pessoas seriam adeptas a essa possibilidade. Seria perfeito você poder simplesmente acionar um dispositivo mental que tirasse sua pobre e exausta alma de dentro do seu corpo, levando ela pra algum outro lugar qualquer. Para um corpo reserva, talvez. Para algum lugar distante, para algum limbo criado justamente para férias de si. Talvez pra algum planeta distante, sei lá... Seria bom se, a cada final do dia ou da semana, a gente pudesse simplesmente desligar. Porque desligar-se seria mais eficiente do que tirar férias de si mesmo, pois mesmo nas férias você ainda tem que seguir e respeitar o tal do tempo, ter os tais dos problemas e blábláblá... Desligando-se você resolve todos os seus problemas, tira férias do seu chefe exigente, tira férias do seu professor chato, tira férias do vizinho barulhento, tira férias da namorada grudenta demais, tira férias das contas a pagar e de seus respectivos cobradores, tira férias da sua mãe que vive te cobrando melhores notas, tira férias do seu pai que só quer assistir o canal de esportes, tira férias do trânsito engarrafado, tira férias da humanidade inconsciente e ignorante, tira férias da parte consciente e chata da humanidade que teima em tentar conscientizar o resto, tira férias dos políticos que continuam roubando você e sua família, tira férias dos bandidos que continuam assaltando sua família e você, tira férias de mim, tira férias de você. Mas, veja como é irônico... Os caras que conseguem atingir esse 'auge' do autocontrole e enfim alcançam o patamar da evolução necessário para serem capazes de poder desligar-se em vez de tirar férias por já terem ficados cansados delas, ainda são chamados de loucos suicidas.