A política da confiança.

"Segurança, crédito, fé, esperança.", já dizia nosso bom e velho Aurélio. Confiar-se a alguém ou a algo significa creditar todo seu íntimo naquele ser, entregando-se à própria sorte e também à própria sorte do outro. É a busca pela troca, daquilo que é confidencial e secreto, mas que, entretanto, pode ser compartilhado. E é compartilhado. Compartilhado entre pessoas, talvez por muitas pessoas, que acreditam umas nas outras, que respeitam umas as outras e que, acima de tudo, enxergam uma nas outras algo que inspira essa tão bela confiança.

E parece ser tão difícil! Não, de fato é difícil. Confiar um segredo ou qualquer outra coisa é uma entrega total. Você venda seus olhos e se joga da beira de um precipício, esperando que aquela pessoa a quem você confiou esteja lá em baixo para te segurar. Não, e não tem volta. Pois as palavras quando saem de sua boca já não são mais tuas. E o esperado é que a pessoa que as ouviu também as guarde como se fossem suas, e não como um simples fato insignificante que nem a envolve.

E é essencial. Quando não há confiança, não há amor, não há amizade, não há nada. A demonstração mais sublime de amizade e amor entre duas ou mais pessoas é o fato de terem entre si essa confiança acima de tudo. O fluxo livre de idéias, pensamentos e segredos. A presença de "segurança, crédito, fé, esperança". Você sentir que pode colocar pra fora tudo aquilo de mais íntimo e pessoal, sabendo que do outro lado vai ter alguém correspondendo tudo aquilo. Isso é confiar. É você estar tão próxima de uma pessoa, que entre seus segredos e os dela há uma interseção sempre recíproca e verdadeira.

É também uma gota única do líquido mais valioso da face da Terra, que quando escapa entre os dedos, se perde para sempre. E a metáfora é sempre comprovada. Quando se perde a confiança em alguém ou em algo, é praticamente impossível recuperá-la. Aquilo tudo desmorona, mesmo. O fluxo acaba, a interseção se quebra, você cai sozinho. E é uma das coisas na vida que não tem volta, e é assim mesmo que tem que ser. Confiar duas vezes numa mesma pessoa é dar mais uma chance pra que ela te machuque.

Por isso, antes de confiar, desconfie. Desconfiar antes para não 'des-confiar' depois. Assim acaba ficando bem mais fácil de viver todo esse processo que vêm antes de muita coisa. Desconfiar antes, confiar depois; confiar antes, amar depois. E daí por diante. Mas todo mundo precisa de alguém em quem confiar. Senão a vida fica sem-graça. Pra quê viver se você não tem alguém para compartilhar os momentos íntimos? Ou algo nem tão íntimo assim... Só as coisas feias que você faz escondido e todas aquelas outras coisas que você não contaria para sua mãe, simplesmente... E tem também aquelas outras coisas que você só faz com quem você confia mesmo, e com mais ninguém.

Confiar é isso. Não é simplesmente "segurança, crédito, fé, esperança", não, querido Aurélio. É algo mais intenso do que as palavras de um dicionário possam transmitir para nossa sabedoria. Mas, claro, o Aurélio não poderia nos confiar todas as definições mais perfeitas e intensas do mundo.