Seja bem-vindo ao meu mundo.

Sempre odiei despedidas. A maioria das pessoas odeia, na verdade... Mas eu acabei me acostumando. Não sei se isso endurece o coração do homem ou se isso o põe mais forte, sei apenas que é assim que é. Pode-se comparar perfeitamente à uma doença que te abate como se fosse o fim da vida, mas vai embora e te deixa imune à ela para sempre. Ou pelo menos até que ela volte mais forte.
Também odeio o medo. Ele faz de nós seres paralíticos e limitados. Nos faz querer correr até que desfaleçamos num vácuo eterno de tristeza. E dor. Ele torna a rosa mais bela e vermelha um simples espinheiro mortal e perigoso. O medo me volta à posição fetal. Me faz querer voltar aos braços da mãe. Perco a capa, a máscara, a face. As duas faces.
Tampouco gosto de rancores. Prefiro a esperança, de verdade. Ter rancor é como comer uma fruta podre que te oferecem por maldade e deixar que ela lhe faça apodrecer junto por dentro e por fora, por bondade. Bondade demais. Por isso, não aceite maçãs de estranhos! Elas podem estar envenenadas para, de alguma forma, lhe levar a um sonho eterno e gélido...
Esta aí uma coisa que gosto: sonho. Sonho colorido, encantado. Com direito a príncipe e princesa, e a bruxa com vassoura e tudo. Sonho com gosto de doce de leite e cheiro de rosa vermelha e flor roxa de pracinha. Com jeito de filme antigo, com gente alegre e sem-vergonha, com música alta e gostosa.
No sonho pode ter até homens azuis que perseguem a gente até o fim, não importa. Às vezes pode ter explosão e fogo e morte. Mas no sonho nada é o que parece e nada parece como o que realmente é pra quem sonha. O importante é a viajem, feita naturalmente com nosso inconsciente consciente e vivo. Como um mergulho num caleidoscópio gigante.
E todo mundo correndo pra todos os lados, com sorriso no rosto e sorvete na mão. E mais cores vivas. Cores que também correm pra todos os lados, entre as pessoas e seus sorvetes. E cada uma das pessoas também sonhando com seus próprios mundos coloridos e encantados... Sem pensar no medo, na despedida, no rancor. Por que o importante nessa vida é sonhar colorido. E sonhar e sonhar e sonhar até o fim.
E nunca se despedir.



Do silêncio da casa e apenas um começo
aos finais desconhecidos
nada mais vale o desgaste da vitória
senão a risada e o amor de amigos

"Dedicatory Ode", Hillarie Beloc