"Você é o futuro"

Fico olhando toda esse gente brilhante, de olhar distante e cabeça avoada. Fico pensando se, mesmo toda essa gente brilhante, será um dia mais brilhante ainda que eu já fui. Ou se, de tão brilhantes que somos, um vai apagando o outro como estrela cadente jogada na terra. E toda essa gente pulante, envolvente, me chama. Não sei correr de nada.
E só fico olhando. Muita gente, muito colorida e muito especial. Uns olhos atentos, uns outros fechados, a maioria arregalado. E eu serpenteando de um estado para o outro, mas sempre observando todos os olhos diferentes que não olham para mim. Eu não sou tão brilhante. Ou então, de tão brilhantes que somos, ninguem brilhante é.
E o que é aquele homem ou mulher lá na frente? Ela pula, enquanto fala alto. Ele ri, sem-graça. A outra pula e ri, cheia de graça. Também são brilhantes, demais. Tão brilhantes esses são que estão lá apenas para emprestar seu brilho para outros em troca de água e pão. Fazem da sua vida uma correria por um trocado besta, mas cheio de glória. E brilho. E aquela porta sempre aberta é para lembrar a toda essa gente que são brilhantes e livres sempre.
Mas de repente, todo mundo foje. Nessa hora, paro até de observar para fugir junto. Junto com todo mundo, junto com ninguém. Para fazer nada, também. Mas eu adoro ver tanta gente tão feliz por nada. Ou tanta gente tão cansada de tudo. E, por último, tanta gente tão determinada a vencer tudo, por nada. Eu, de novo, me incluo nessa.
E, como num passe de mágica, todas aquelas pessoas brilhantes somem. Cada uma toma um caminho e segue nele para brilhar em outro lugar, para impressionar outro bobo, envolver mais gente por aí. E vem outra multidão de gente igual brilhar aqui no lugar delas, como de costume. E eu vou ficar ali parado, pensando no que acabei de ver. Sempre com esse jeito de gente brilhante, de olhar distante e cabeça avoada.